A história da coroa confederal catalano-aragonesa contém figuras que transcendem as fronteiras políticas e se tornam pontes culturais, forjando identidades nacionais com raízes cruzadas. Uma das mais significativas é Isabel de Aragão e Sicília (1271–1336), que nasceu infanta da coroa catalã e culminou a sua vida como Rainha de Portugal e como santa co-padroeira deste reino, juntamente com Nossa Senhora da Conceição.
Filha do Rei Pedro o Grande, casou-se com o monarca de Portugal, Dinis I (1261-1325), no ano de 1282, e com apenas doze anos foi rainha do país, cargo que ocupou durante 43 anos, entre 1282 e 1325 d.C. Foi filha de Pedro o Grande, Rei de Aragão e Conde de Barcelona, e da sua esposa, Constança da Sicília. Pela linha paterna, era neta de Jaime I, o Conquistador, e de Iolanda da Hungria, além de sobrinha de Isabel da Hungria, conhecida também pela sua santidade, e pela linha materna era neta de Manfredo I da Sicília e de Beatriz de Saboia.
Neste artigo, falaremos da sua biografia, do enraizamento profundo do seu culto, da significação teológica e cultural da sua lenda mais famosa, da sua contribuição arquitetónica e espiritual para a cidade de Coimbra, e do papel crucial que a sua figura desempenha na articulação do patriotismo português. E, acima de tudo, procuraremos resolver o mistério do seu lugar de nascimento.
No ano de 1281, Isabel de Aragão, que é como também lhe chamam em Portugal, recebeu como dote as vilas de Abrantes, Óbidos, Alenquer e Porto de Mós. Mais tarde, também recebeu os castelos de Vila Viçosa, Monforte, Sintra, Ourém, Feira, Gaia, Lamoso, Nóbrega, Santo Estêvão de Chaves, Monforte de Rio Livre, Portel e Montalegre, além das rendas e povoações de Leiria e Arruda (1300) e Baleia (1307). Além das vilas reais de Gondomar, Rebordões, Codões, bem como Torres Vedras e a Leziria de Atalaia.
Como rainha consorte, a sua vida centrou-se na religiosidade, na justiça social e, de forma crucial, na mediação da paz. A sua tarefa diplomática fez-se sentir em numerosos conflitos. Em primeiro lugar, nas disputas que confrontavam o seu marido com o seu próprio filho, o Infante Afonso (o futuro Afonso IV de Portugal) e, em segundo lugar, pelo seu papel conciliador com o belicoso rei castelhano.
Numa época de constantes tensões internas e guerras fratricidas entre a nobreza, esta função de pacificadora foi essencial para a coesão do reino. Esta caridade política estendeu-se para além da corte. Isabel, além disso, dedicou muitos recursos e tempo à fundação de hospitais, albergues para peregrinos, escolas para crianças e à promoção da caridade organizada, elementos que foram o fundamento da sua posterior e rápida canonização e da sua devoção popular.
O seu brasão de armas como Infanta refletia claramente a sua ascendência, ostentando o senyal reial catalão, como símbolo principal do seu pai, Pedro o Grande, um facto que sublinha a importância da sua genealogia na Península Ibérica. Foi-lhe dado o nome de Isabel em honra da irmã da sua avó, Santa Isabel da Hungria. Isabel foi irmã dos condes de Barcelona e reis de Aragão Afonso, o Franco, e Jaime II, o Justo, bem como de Frederico II da Sicília.
Como é habitual acontecer com a censurada e adulterada vida dos personagens da coroa catalano-aragonesa, ocorre o facto insólito de não se saber nada sobre o local de nascimento de toda uma rainha de Portugal que, além disso, é santa e padroeira do país. Isto já nos deveria fazer pensar que, muito provavelmente, era catalã, dado que os censores áustrias e borbons foram especialmente viscerais com os personagens catalães. Assim, apesar de em Aragão assegurarem conservar uma tradição sobre o suposto nascimento em Saragoça da rainha, não há nenhuma evidência documental que o corrobore.
Deixando a lenda de lado, para tentar esclarecer o mistério, neste artigo faremos uma análise detalhada, a partir da informação oficial, sobre os movimentos registados documentalmente do seu pai e da sua mãe, o Infante Pedro de Aragão e a Infanta Constança da Sicília, para tentar estabelecer, de maneira fidedigna, o provável local de nascimento da rainha santa.
Dá-se como certo que Isabel nasceu no ano de 1271 (provavelmente durante o último trimestre) e, portanto, a conceção se deve ter dado entre finais de 1270 e inícios de 1271. A análise das crónicas e dos arquivos reais sobre o itinerário dos seus pais, o Infante Pedro e a Rainha Constança, torna-se crucial para fixar o local com mais probabilidade.
Em 1270, o Infante Pedro realizou uma viagem significativa à Sicília para reclamar os direitos dinásticos de Constança. Contudo, Constança não o acompanhou nesta perigosa travessia, mas permaneceu na Península Ibérica, principalmente na sua residência habitual no Principado da Catalunha, na cidade de Barcelona. A Corte principal, oficial e histórica de Pedro o Grande (e de todos os condes de Barcelona e reis de Aragão, desde o século XI) na cidade condal era o Palácio Real Maior, situado na Plaça del Rei, no coração do Bairro Gótico.
O Infante Pedro regressou à Catalunha no outono de 1270, reunindo-se com a sua esposa no período imediatamente anterior à conceção da infanta. Os movimentos de Constança durante a gestação, que teve lugar durante a maior parte de 1271, concentram-se no entorno de Barcelona. Isto faz com que a cidade condal, ou as suas redondezas, seja a hipótese mais sólida como local de nascimento da rainha santa de Portugal, dado que Barcelona era o centro político e administrativo da Coroa catalano-aragonesa.
Uma vez nascida Isabel, nos finais de 1271, o Infante Pedro teve de abandonar imediatamente a família para participar na cruzada de Múrcia, minimizando o tempo familiar em favor das obrigações militares e políticas da confederação.
Uma parte essencial da biografia da catalã Santa Isabel de Portugal e do seu legado espiritual está ligada à fundação e ao financiamento de conventos, especialmente os da Ordem de Santa Clara, refletindo a sua profunda devoção a São Francisco e ao seu desejo de uma vida ascética.
Graças às últimas investigações de Jordi Bilbeny e Pep Mayoles, sabemos da direta relação entre a Catalunha com as figuras de São Francisco e Santa Clara. E é neste contexto que se deve situar a devoção da rainha Isabel e o facto de o Convento de Santa Clara-a-Velha, à beira do rio Mondego, em Coimbra, ter sido fundado por ela mesma, no ano de 1314, e se ter convertido no local onde quis ser enterrada.
Contudo, e como costuma acontecer frequentemente com os personagens catalães censurados, os cenários cruciais desaparecem. Seja coincidência ou não, o mosteiro que Isabel ajudou a criar, hoje já não existe. Supostos problemas recorrentes de inundação que o convento sofria, devido às cheias do rio, aconselharam o seu abandono. Curiosamente, o novo convento que se construiu, bem perto dos restos do antigo, que ainda se podem visitar, já não sofreu este inconveniente. Portanto, os poucos restos que nos chegaram são os que se trasladaram do antigo edifício para o novo, no século XVI, como o sepulcro da rainha Isabel.
Em todo o caso, sabe-se que depois da morte do seu marido, em 1325, Isabel fez voto de terciária franciscana (Clarissa) e retirou-se para o Convento de Santa Clara-a-Velha, dedicando os últimos anos da sua vida à oração e à caridade extrema. Se fizermos um breve resumo da história dos franciscanos em Portugal, vemos que já estavam presentes em Coimbra, num mosteiro que antigamente era das cónegas de São João. Devido a isso, as diferenças entre as comunidades das clarissas e das cónegas de São João foram-se agravando até que, finalmente, em 1311, o mosteiro das clarissas foi declarado extinto e os bens foram repartidos entre os agostinhos e frades menores, e as monjas de São João regressaram ao local de origem.
Apesar disso, no ano de 1314 a rainha Isabel conseguiu do papa a oportuna licença para a fundação de uma casa de clarissas em Coimbra no mesmo local da fundação anterior, ampliando os seus terrenos. De tal maneira que em 1317 uma comunidade já ocupava de novo o convento de Santa Clara. Quando a rainha ficou viúva, no ano de 1325, retirou-se para um palácio junto a Santa Clara. Além disso, dispôs o seu enterramento na igreja conventual, local onde mais tarde será venerada como santa. Contudo, no século XVI, como dissemos, o mosteiro sofreu supostas inundações pela proximidade do rio, o que obrigou a fazer modificações estruturais importantes com a intenção de minimizar os efeitos. Apesar de tudo, em 1647 considerou-se mais adequado abandonar o edifício e trasladá-lo para um novo convento.
Em 1649, portanto, começou-se a construção do novo convento e em 1672 as monjas já se tinham trasladado para um local próximo, mas mais elevado. O antigo convento caiu no abandono e, depois da desamortização, em 1834, passou para mãos particulares e ficou meio soterrado. O local de Santa Clara-a-Velha passou para mãos públicas, em 1976, e começou a ser escavado e restaurado no final do século XX. Atualmente, existe um museu.
Segundo explica a tradição, a rainha Isabel foi entregando as suas joias reais para financiar obras de caridade e viajou em peregrinação a Santiago de Compostela. De facto, na Galiza ainda é recordada e venerada como uma das peregrinas mais célebres e mitificadas de todas as que passaram por Santiago de Compostela.
Isabel fez a viagem jacobeia em meados de 1325, sendo arcebispo de Compostela o occitano Berenguel de Landoira (Roergue, 1262 - Santiago de Compostela, 1330), filho dos condes de Rodez, com o qual a rainha catalã de Portugal deve ter conversado longamente em catalão e gascão. O arcebispo ofereceu-lhe um báculo com o punho em forma de T, que Isabel conservaria sempre.
Isabel tinha peregrinado desde a cidade portuguesa de Coimbra, pouco depois da morte de Dom Dinis, tão devoto quanto ela do Apóstolo. Fê-lo acompanhada de uma guarda armada que custodiava uma caravana com joias e objetos de luxo destinados ao santuário galego, entre os quais estava a sua própria coroa real. Este foi, possivelmente, o maior tesouro oferecido alguma vez à catedral de Santiago de Compostela por um peregrino. Contudo, curiosamente, também nada se conserva desta importante oferenda.
Tanta é a devoção popular que inúmeras escolas e igrejas levam o seu nome em honra da rainha santa. E, além de co-padroeira de Portugal, a rainha Isabel é a padroeira da cidade de Coimbra, que celebra a sua festa a 4 de julho, dia da sua morte. Também o músico Alfredo Marceneiro lhe dedicou o fado "Rainha Santa", com letra de Henrique Rego. A sua tumba, assim como o Novo Mosteiro de Santa Clara (Santa Clara-a-Nova), foram confiados ao cuidado da Confraria da Rainha Santa Sabela, que ostenta o brasão heráldico da rainha como emblema e que se encarrega da organização da multitudinária procissão que tem lugar na cidade a cada verão em sua honra.
A lenda do Milagre das Rosas é o eixo central da sua figura e da sua iconografia. Diz-se que Isabel, temendo a desaprovação do seu marido, que era muito crítico com a sua excessiva caridade e com a despesa que supunha para os cofres reais, chegando a proibi-lo expressamente, escondia pão, moedas e alimentos no seu colo ou sob a sua roupa para repartir às escondidas entre os pobres e os indigentes da cidade de Coimbra.
Um dia, o rei intercetou-a e perguntou-lhe o que levava escondido. Ela, sem duvidar, para proteger a sua obra de caridade e os destinatários, respondeu que apenas levava rosas. Ao abrir o colo, por ordem do rei, milagrosamente, o pão e o dinheiro que ali estavam escondidos transformaram-se em rosas frescas, mesmo sendo inverno, segundo algumas versões do relato. Por este motivo, Santa Isabel é quase sempre representada como uma rainha coroada que sustenta rosas no seu colo ou nas mãos. Este milagre, partilhado com outras santas, adaptou-se à tradição portuguesa.
O seu culto estendeu-se rapidamente por toda a Península Ibérica e Europa, sustentado na fama de milagres e na devoção popular pela sua vida virtuosa. Foi beatificada pelo papa Leão X, em 1516, e finalmente, foi canonizada pelo papa Urbano VIII, no ano de 1625, convertendo-se oficialmente na santa protetora do reino de Portugal, juntamente com a Mãe de Deus da Conceição. Este processo culminou a santidade popular da qual já gozava desde a sua morte. O seu corpo, que segundo a tradição se encontrou incorrupto, tornou-se a relíquia mais preciosa de Portugal.
Os seus restos mortais são custodiados hoje numa magnífica urna-relicário de prata e cristal de rocha, que é o foco da veneração dos fiéis e o elemento central do seu culto. Este complexo monástico em Coimbra converteu-se num centro de peregrinação de primeira ordem, testemunhando o estatuto da Rainha Santa como figura permanente da cidade.
A figura de Isabel é indissociável da cidade de Coimbra e tem um profundo significado na construção da identidade nacional portuguesa. Santa Isabel é considerada a Padroeira de Portugal, que se celebra a cada 4 de julho. Este é um título que transcende a mera santidade local. Isto significa que a figura da rainha, filha da linhagem catalã, é o símbolo de uma virtude fundamental da nação portuguesa: a piedade real e a solidariedade social.
É uma das poucas figuras reais venerada como santa, outorgando um carácter quase divino à sua monarquia e sublinhando a intercessão divina a favor do reino. Coimbra transforma-se a cada dois anos (anos pares) para celebrar as "Festas da Rainha Santa Isabel", o seu evento mais importante e uma das maiores celebrações religiosas do país. O ponto culminante é a solene procissão onde a urna com o corpo da Santa é transportada numa impressionante peregrinação noturna, iluminada por milhares de velas, desde o Mosteiro de Santa Clara-a-Nova até à Sé Nova (a Catedral Nova) e, dias mais tarde, de regresso. Esta procissão, que atrai peregrinos de todo o país, é uma manifestação massiva de fé, devoção e patriotismo local, recordando a função da Santa como protetora da cidade. Os balcões da vila enchem-se de estandartes com o brasão real da rainha que consiste nos senyals reials catalão e português.
A linha de descendência da rainha catalano-portuguesa chega até ao Infante Henrique, o Navegador (filho de João I de Avis), o grande impulsionador dos descobrimentos, que fecha o círculo da influência catalano-aragonesa em Portugal. Sabe-se que o Infante Henrique utilizou os cartógrafos maiorquinos da Coroa catalano-aragonesa para iniciar as suas explorações. Esta conexão entre a Rainha Santa catalã e a era dos Descobrimentos dá uma profundidade única ao seu legado. A devoção a Santa Isabel é, em última análise, um ato de reconhecimento ao papel da caridade, da paz e da dignidade real, valores que a filha de Pedro o Grande aportou ao seu reino de adoção, convertendo-se num símbolo nacional que funde a origem catalã com a devoção lusitana.
Filha do Rei Pedro o Grande, casou-se com o monarca de Portugal, Dinis I (1261-1325), no ano de 1282, e com apenas doze anos foi rainha do país, cargo que ocupou durante 43 anos, entre 1282 e 1325 d.C. Foi filha de Pedro o Grande, Rei de Aragão e Conde de Barcelona, e da sua esposa, Constança da Sicília. Pela linha paterna, era neta de Jaime I, o Conquistador, e de Iolanda da Hungria, além de sobrinha de Isabel da Hungria, conhecida também pela sua santidade, e pela linha materna era neta de Manfredo I da Sicília e de Beatriz de Saboia.
Neste artigo, falaremos da sua biografia, do enraizamento profundo do seu culto, da significação teológica e cultural da sua lenda mais famosa, da sua contribuição arquitetónica e espiritual para a cidade de Coimbra, e do papel crucial que a sua figura desempenha na articulação do patriotismo português. E, acima de tudo, procuraremos resolver o mistério do seu lugar de nascimento.
[Imagem superior: Estátua da rainha catalã Isabel de Aragão em Coimbra, a mais querida pelos portugueses, que a converteram na sua santa padroeira.]
[Imagem do altar dedicado a Santa Isabel de Aragão e Sicília, no convento de Santa Clara-a-Nova de Coimbra, Portugal, com o brasão da rainha que combina as armas reais catalãs com as portuguesas.]
Isabel de Aragão e Sicília, filha de Pere el Gran (Pedro o Grande)
A vida de Isabel foi um paradigma de piedade, caridade e, sobretudo, diplomacia ativa desde a sua juventude. Isabel nasceu no ano de 1271, filha de Pedro o Grande (Pedro II da Catalunha) e de Constança da Sicília, e, portanto, neta do rei Jaime I, o Conquistador. Foi um laço dinástico estratégico que ligou Portugal, um país eminentemente atlântico, com a potência política e marítima mais expansiva do Mediterrâneo. A sua linhagem, à qual se acrescenta a herança da Sicília, posicionava-a no topo da aristocracia europeia. No ano de 1282, com apenas doze anos, contraiu matrimónio com o rei Dinis I de Portugal, conhecido como o rei-poeta, estabelecendo-se definitivamente no reino lusitano.
Dinis I de Portugal tinha 18 anos quando ascendeu ao trono e, pensando no matrimónio, Isabel de Aragão era-lhe muito conveniente. Dinis enviou uma embaixada a Pedro o Grande, na Corte de Barcelona, onde vivia Isabel, em 1280. A comitiva era formada por João Velho, João Martins e Vasco Pires. Quando chegaram à cidade condal, encontraram que ainda esperavam uma resposta os enviados dos reis de França e Inglaterra, que se tinham adiantado e também desejavam casar Isabel com um dos seus filhos. O rei da Catalunha escolheu entre os pretendentes aquele que já era rei.
A 11 de fevereiro de 1282, aos 12 anos, Isabel casou-se, por procuração, com o soberano português em Barcelona, tendo voltado a celebrar o casamento ao cruzar a fronteira portuguesa da Beira, em Trancoso, a 26 de junho do mesmo ano. Por este motivo, o rei acrescentou esta vila ao dote que se dava habitualmente às rainhas (a chamada "Casa das Rainhas", um conjunto de senhorios dos quais as consortes dos reis portugueses adquiriam os bens destinados à sua manutenção pessoal).
A vida de Isabel foi um paradigma de piedade, caridade e, sobretudo, diplomacia ativa desde a sua juventude. Isabel nasceu no ano de 1271, filha de Pedro o Grande (Pedro II da Catalunha) e de Constança da Sicília, e, portanto, neta do rei Jaime I, o Conquistador. Foi um laço dinástico estratégico que ligou Portugal, um país eminentemente atlântico, com a potência política e marítima mais expansiva do Mediterrâneo. A sua linhagem, à qual se acrescenta a herança da Sicília, posicionava-a no topo da aristocracia europeia. No ano de 1282, com apenas doze anos, contraiu matrimónio com o rei Dinis I de Portugal, conhecido como o rei-poeta, estabelecendo-se definitivamente no reino lusitano.
Dinis I de Portugal tinha 18 anos quando ascendeu ao trono e, pensando no matrimónio, Isabel de Aragão era-lhe muito conveniente. Dinis enviou uma embaixada a Pedro o Grande, na Corte de Barcelona, onde vivia Isabel, em 1280. A comitiva era formada por João Velho, João Martins e Vasco Pires. Quando chegaram à cidade condal, encontraram que ainda esperavam uma resposta os enviados dos reis de França e Inglaterra, que se tinham adiantado e também desejavam casar Isabel com um dos seus filhos. O rei da Catalunha escolheu entre os pretendentes aquele que já era rei.
A 11 de fevereiro de 1282, aos 12 anos, Isabel casou-se, por procuração, com o soberano português em Barcelona, tendo voltado a celebrar o casamento ao cruzar a fronteira portuguesa da Beira, em Trancoso, a 26 de junho do mesmo ano. Por este motivo, o rei acrescentou esta vila ao dote que se dava habitualmente às rainhas (a chamada "Casa das Rainhas", um conjunto de senhorios dos quais as consortes dos reis portugueses adquiriam os bens destinados à sua manutenção pessoal).
[Imagem de Santa Isabel de Aragão e Sicília ou Santa Isabel de Portugal com o báculo em forma de T.]
Como rainha consorte, a sua vida centrou-se na religiosidade, na justiça social e, de forma crucial, na mediação da paz. A sua tarefa diplomática fez-se sentir em numerosos conflitos. Em primeiro lugar, nas disputas que confrontavam o seu marido com o seu próprio filho, o Infante Afonso (o futuro Afonso IV de Portugal) e, em segundo lugar, pelo seu papel conciliador com o belicoso rei castelhano.
Numa época de constantes tensões internas e guerras fratricidas entre a nobreza, esta função de pacificadora foi essencial para a coesão do reino. Esta caridade política estendeu-se para além da corte. Isabel, além disso, dedicou muitos recursos e tempo à fundação de hospitais, albergues para peregrinos, escolas para crianças e à promoção da caridade organizada, elementos que foram o fundamento da sua posterior e rápida canonização e da sua devoção popular.
O seu brasão de armas como Infanta refletia claramente a sua ascendência, ostentando o senyal reial catalão, como símbolo principal do seu pai, Pedro o Grande, um facto que sublinha a importância da sua genealogia na Península Ibérica. Foi-lhe dado o nome de Isabel em honra da irmã da sua avó, Santa Isabel da Hungria. Isabel foi irmã dos condes de Barcelona e reis de Aragão Afonso, o Franco, e Jaime II, o Justo, bem como de Frederico II da Sicília.
[No sepulcro da rainha catalã, que agora se encontra em Santa Clara-a-Nova de Coimbra, também se pode ver o senyal reial catalão acompanhado das armas de Portugal.]
Uma rainha portuguesa provavelmente nascida em Barcelona
Como é habitual acontecer com a censurada e adulterada vida dos personagens da coroa catalano-aragonesa, ocorre o facto insólito de não se saber nada sobre o local de nascimento de toda uma rainha de Portugal que, além disso, é santa e padroeira do país. Isto já nos deveria fazer pensar que, muito provavelmente, era catalã, dado que os censores áustrias e borbons foram especialmente viscerais com os personagens catalães. Assim, apesar de em Aragão assegurarem conservar uma tradição sobre o suposto nascimento em Saragoça da rainha, não há nenhuma evidência documental que o corrobore.
Deixando a lenda de lado, para tentar esclarecer o mistério, neste artigo faremos uma análise detalhada, a partir da informação oficial, sobre os movimentos registados documentalmente do seu pai e da sua mãe, o Infante Pedro de Aragão e a Infanta Constança da Sicília, para tentar estabelecer, de maneira fidedigna, o provável local de nascimento da rainha santa.
Dá-se como certo que Isabel nasceu no ano de 1271 (provavelmente durante o último trimestre) e, portanto, a conceção se deve ter dado entre finais de 1270 e inícios de 1271. A análise das crónicas e dos arquivos reais sobre o itinerário dos seus pais, o Infante Pedro e a Rainha Constança, torna-se crucial para fixar o local com mais probabilidade.
Em 1270, o Infante Pedro realizou uma viagem significativa à Sicília para reclamar os direitos dinásticos de Constança. Contudo, Constança não o acompanhou nesta perigosa travessia, mas permaneceu na Península Ibérica, principalmente na sua residência habitual no Principado da Catalunha, na cidade de Barcelona. A Corte principal, oficial e histórica de Pedro o Grande (e de todos os condes de Barcelona e reis de Aragão, desde o século XI) na cidade condal era o Palácio Real Maior, situado na Plaça del Rei, no coração do Bairro Gótico.
O Infante Pedro regressou à Catalunha no outono de 1270, reunindo-se com a sua esposa no período imediatamente anterior à conceção da infanta. Os movimentos de Constança durante a gestação, que teve lugar durante a maior parte de 1271, concentram-se no entorno de Barcelona. Isto faz com que a cidade condal, ou as suas redondezas, seja a hipótese mais sólida como local de nascimento da rainha santa de Portugal, dado que Barcelona era o centro político e administrativo da Coroa catalano-aragonesa.
Uma vez nascida Isabel, nos finais de 1271, o Infante Pedro teve de abandonar imediatamente a família para participar na cruzada de Múrcia, minimizando o tempo familiar em favor das obrigações militares e políticas da confederação.
[Um anjo que preside o coro do mosteiro de Santa Clara-a-Nova de Coimbra ostenta o brasão da rainha Isabel, com as armas de Portugal e da Catalunha.]
A vinculação de Santa Isabel e as clarissas
Uma parte essencial da biografia da catalã Santa Isabel de Portugal e do seu legado espiritual está ligada à fundação e ao financiamento de conventos, especialmente os da Ordem de Santa Clara, refletindo a sua profunda devoção a São Francisco e ao seu desejo de uma vida ascética.
Graças às últimas investigações de Jordi Bilbeny e Pep Mayoles, sabemos da direta relação entre a Catalunha com as figuras de São Francisco e Santa Clara. E é neste contexto que se deve situar a devoção da rainha Isabel e o facto de o Convento de Santa Clara-a-Velha, à beira do rio Mondego, em Coimbra, ter sido fundado por ela mesma, no ano de 1314, e se ter convertido no local onde quis ser enterrada.
Contudo, e como costuma acontecer frequentemente com os personagens catalães censurados, os cenários cruciais desaparecem. Seja coincidência ou não, o mosteiro que Isabel ajudou a criar, hoje já não existe. Supostos problemas recorrentes de inundação que o convento sofria, devido às cheias do rio, aconselharam o seu abandono. Curiosamente, o novo convento que se construiu, bem perto dos restos do antigo, que ainda se podem visitar, já não sofreu este inconveniente. Portanto, os poucos restos que nos chegaram são os que se trasladaram do antigo edifício para o novo, no século XVI, como o sepulcro da rainha Isabel.
Em todo o caso, sabe-se que depois da morte do seu marido, em 1325, Isabel fez voto de terciária franciscana (Clarissa) e retirou-se para o Convento de Santa Clara-a-Velha, dedicando os últimos anos da sua vida à oração e à caridade extrema. Se fizermos um breve resumo da história dos franciscanos em Portugal, vemos que já estavam presentes em Coimbra, num mosteiro que antigamente era das cónegas de São João. Devido a isso, as diferenças entre as comunidades das clarissas e das cónegas de São João foram-se agravando até que, finalmente, em 1311, o mosteiro das clarissas foi declarado extinto e os bens foram repartidos entre os agostinhos e frades menores, e as monjas de São João regressaram ao local de origem.
[A entrada no mosteiro de Santa Clara-a-Nova de Coimbra é presidida pelo brasão heráldico da rainha Isabel, com o senyal reial português e o catalão.]
Em 1649, portanto, começou-se a construção do novo convento e em 1672 as monjas já se tinham trasladado para um local próximo, mas mais elevado. O antigo convento caiu no abandono e, depois da desamortização, em 1834, passou para mãos particulares e ficou meio soterrado. O local de Santa Clara-a-Velha passou para mãos públicas, em 1976, e começou a ser escavado e restaurado no final do século XX. Atualmente, existe um museu.
[O brasão de armas da rainha Isabel, com o senyal reial catalão, está presente em diversos locais do mosteiro.]
A rainha peregrina a Santiago de Compostela e funda um hospital
Isabel fez a viagem jacobeia em meados de 1325, sendo arcebispo de Compostela o occitano Berenguel de Landoira (Roergue, 1262 - Santiago de Compostela, 1330), filho dos condes de Rodez, com o qual a rainha catalã de Portugal deve ter conversado longamente em catalão e gascão. O arcebispo ofereceu-lhe um báculo com o punho em forma de T, que Isabel conservaria sempre.
Isabel tinha peregrinado desde a cidade portuguesa de Coimbra, pouco depois da morte de Dom Dinis, tão devoto quanto ela do Apóstolo. Fê-lo acompanhada de uma guarda armada que custodiava uma caravana com joias e objetos de luxo destinados ao santuário galego, entre os quais estava a sua própria coroa real. Este foi, possivelmente, o maior tesouro oferecido alguma vez à catedral de Santiago de Compostela por um peregrino. Contudo, curiosamente, também nada se conserva desta importante oferenda.
[A chegada da rainha Santa Isabel à Catedral de Santiago, segundo uma pintura do pintor António de Holanda, de 1530.]
Isabel, que fez o último troço até Santiago a pé, despojou-se, ao chegar, dos seus vestidos, que também deixou em oferenda. Como já dissemos, o arcebispo presenteou-a com um luxuoso báculo em forma de tau, muito semelhante ao que sustenta o apóstolo Santiago no Pórtico da Glória da catedral compostelana, além de uma concha de vieira, símbolo dos peregrinos. Após a morte de Isabel, foi sepultada com ambos os atributos, como se descobriu em 1612, ao inspecionar o seu sepulcro em Coimbra.
Dez anos depois desta primeira viagem à Galiza, Isabel ou Isabel de Portugal peregrinou de novo a Compostela, em 1335, tendo um pressentimento da proximidade da sua morte. Viajou a pé, quase incógnita e pedindo esmola, como uma pobre peregrina mais, segundo a tradição portuguesa (que os historiadores lusitanos atuais põem em dúvida, deve-se dizer). De regresso a Portugal, morreria pouco depois. Foi sepultada no convento de Santa Clara de Coimbra, fundado por ela, com os seus atributos de peregrina, dos quais se conserva parte do báculo de cobre e prata com que a tinha presenteado o arcebispo Berenguel (ou Berenguer). A sua esplendorosa tumba culmina com uma estátua jacente que representa Isabel com os símbolos da peregrinação jacobeia e onde figuram os senyals reials catalãs e portugueses.
Dez anos depois desta primeira viagem à Galiza, Isabel ou Isabel de Portugal peregrinou de novo a Compostela, em 1335, tendo um pressentimento da proximidade da sua morte. Viajou a pé, quase incógnita e pedindo esmola, como uma pobre peregrina mais, segundo a tradição portuguesa (que os historiadores lusitanos atuais põem em dúvida, deve-se dizer). De regresso a Portugal, morreria pouco depois. Foi sepultada no convento de Santa Clara de Coimbra, fundado por ela, com os seus atributos de peregrina, dos quais se conserva parte do báculo de cobre e prata com que a tinha presenteado o arcebispo Berenguel (ou Berenguer). A sua esplendorosa tumba culmina com uma estátua jacente que representa Isabel com os símbolos da peregrinação jacobeia e onde figuram os senyals reials catalãs e portugueses.
[Pintura de António de Holanda, de 1530, onde se representa a rainha Isabel depositando a sua coroa aos pés do arcebispo de Santiago de Compostela, o occitano Berenguer ou Berenguer de Landoira.]
A sua importante ação diplomática
A Rainha Santa morreu enquanto estava numa das suas missões de pacificação mais importantes. Viajou a Estremoz, Portugal, para interceder e evitar um conflito bélico entre o seu filho, o rei Afonso IV de Portugal, e o sobrinho deste, o rei Afonso XI de Castela. Naquele momento, Afonso declarou guerra ao seu sobrinho, o rei Afonso XI de Castela, filho da infanta Constança de Portugal e, portanto, neto materno de Isabel, pelos maus-tratos que este último infligiu à sua esposa Maria, filha do rei português. Apesar da sua idade avançada e da sua doença, a rainha Santa Isabel foi a Estremoz, montando a sua mula durante dias onde, mais uma vez, se situou entre dois exércitos confrontados e evitou a guerra. Contudo, a paz chegaria apenas quatro anos mais tarde, com a intervenção da própria Maria de Portugal, mediante um tratado assinado em Sevilha em 1339.
Em 1336, Isabel morreu em Estremoz, Portugal, enquanto tentava interceder no conflito. Este último ato de mediação selou a sua fama póstuma como figura de paz. Morreu afetada pela peste, a 4 de julho de 1336, tendo deixado no seu testamento o desejo expresso de ser sepultada no Mosteiro de Santa Clara-a-Velha. O seu êxito na mediação não evitou que Isabel adoecesse durante a viagem. O seu corpo foi trasladado para Coimbra, tal como ela tinha desejado, para ser sepultado no Mosteiro de Santa Clara-a-Velha.
Após a sua morte, o povo português atribuiu-lhe toda a espécie de milagres, facto que enalteceu ainda mais a sua lenda. Foi santificada no ano de 1625. Além disso, em Santiago de Compostela, a tradição galega aponta-a como fundadora de um hospital na Rua da Raíña [Rua da Rainha], para perpetuar a sua memória e a do seu marido. Este recinto, mais uma vez (que coincidência), acabou por desaparecer. Mas a recordação mantém-se viva na memória dos galegos.
Conta uma lenda hagiográfica que, após a morte, ao atrasar-se a viagem, havia o receio de que o cadáver tivesse entrado em decomposição acelerada devido ao calor. E diz-se que, no meio da viagem, sob um calor abrasador, o caixão rachou e começou a fluir um líquido que todos supunham que provinha da decomposição cadavérica. Contudo, a surpresa foi que, em vez do mau cheiro esperado, do caixão saiu um aroma muito suave. Atualmente, o seu corpo encontra-se incorrupto na tumba de prata e cristal, ordenada fazer após o traslado para Santa Clara-a-Nova.
[O brasão da confraria que custodia o sepulcro da rainha santa e que organiza a sua procissão são as armas de Isabel.]
Em 1336, Isabel morreu em Estremoz, Portugal, enquanto tentava interceder no conflito. Este último ato de mediação selou a sua fama póstuma como figura de paz. Morreu afetada pela peste, a 4 de julho de 1336, tendo deixado no seu testamento o desejo expresso de ser sepultada no Mosteiro de Santa Clara-a-Velha. O seu êxito na mediação não evitou que Isabel adoecesse durante a viagem. O seu corpo foi trasladado para Coimbra, tal como ela tinha desejado, para ser sepultado no Mosteiro de Santa Clara-a-Velha.
Após a sua morte, o povo português atribuiu-lhe toda a espécie de milagres, facto que enalteceu ainda mais a sua lenda. Foi santificada no ano de 1625. Além disso, em Santiago de Compostela, a tradição galega aponta-a como fundadora de um hospital na Rua da Raíña [Rua da Rainha], para perpetuar a sua memória e a do seu marido. Este recinto, mais uma vez (que coincidência), acabou por desaparecer. Mas a recordação mantém-se viva na memória dos galegos.
Conta uma lenda hagiográfica que, após a morte, ao atrasar-se a viagem, havia o receio de que o cadáver tivesse entrado em decomposição acelerada devido ao calor. E diz-se que, no meio da viagem, sob um calor abrasador, o caixão rachou e começou a fluir um líquido que todos supunham que provinha da decomposição cadavérica. Contudo, a surpresa foi que, em vez do mau cheiro esperado, do caixão saiu um aroma muito suave. Atualmente, o seu corpo encontra-se incorrupto na tumba de prata e cristal, ordenada fazer após o traslado para Santa Clara-a-Nova.
[São múltiplas as recriações populares da rainha Isabel com um ramo de rosas, em referência à lenda do seu milagre.]
A lenda de Santa Isabel de Aragão e o milagre da rosa
A lenda do Milagre das Rosas é o eixo central da sua figura e da sua iconografia. Diz-se que Isabel, temendo a desaprovação do seu marido, que era muito crítico com a sua excessiva caridade e com a despesa que supunha para os cofres reais, chegando a proibi-lo expressamente, escondia pão, moedas e alimentos no seu colo ou sob a sua roupa para repartir às escondidas entre os pobres e os indigentes da cidade de Coimbra.
Um dia, o rei intercetou-a e perguntou-lhe o que levava escondido. Ela, sem duvidar, para proteger a sua obra de caridade e os destinatários, respondeu que apenas levava rosas. Ao abrir o colo, por ordem do rei, milagrosamente, o pão e o dinheiro que ali estavam escondidos transformaram-se em rosas frescas, mesmo sendo inverno, segundo algumas versões do relato. Por este motivo, Santa Isabel é quase sempre representada como uma rainha coroada que sustenta rosas no seu colo ou nas mãos. Este milagre, partilhado com outras santas, adaptou-se à tradição portuguesa.
[Vitral da igreja de Santa Clara-a-Nova de Coimbra, com o brasão de armas da rainha e a sua efígie com as rosas, uma doação da "Sociedade Rainha Santa Isabel da Califórnia".]
A rainha Isabel torna-se padroeira de Portugal
O seu culto estendeu-se rapidamente por toda a Península Ibérica e Europa, sustentado na fama de milagres e na devoção popular pela sua vida virtuosa. Foi beatificada pelo papa Leão X, em 1516, e finalmente, foi canonizada pelo papa Urbano VIII, no ano de 1625, convertendo-se oficialmente na santa protetora do reino de Portugal, juntamente com a Mãe de Deus da Conceição. Este processo culminou a santidade popular da qual já gozava desde a sua morte. O seu corpo, que segundo a tradição se encontrou incorrupto, tornou-se a relíquia mais preciosa de Portugal.
Os seus restos mortais são custodiados hoje numa magnífica urna-relicário de prata e cristal de rocha, que é o foco da veneração dos fiéis e o elemento central do seu culto. Este complexo monástico em Coimbra converteu-se num centro de peregrinação de primeira ordem, testemunhando o estatuto da Rainha Santa como figura permanente da cidade.
A rainha catalã é venerada em Coimbra
[Procissão em Coimbra da Rainha Santa Sabela. O brasão da rainha está na frente do sepulcro.]



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